Tuesday, February 17, 2009

Contos da Cripta IV

Então, lá estava Maristela, mais uma vez, sentada na cadeira que fica de frente para a porta do gabinete do Sr. Director. Do alto dos seus 9 anos, tentava conter as lágrimas. Afinal, gente grande não chora. Olhava para a maçaneta da porta, para distrair-se. Conhecia cada detalhe daquela maçaneta. Não devia. Lembrou-se do ocorrido na semana passada. Deixara fugir o gato do Sr. Director. E ouvira o responso calada. Tinha-o deixado escapar, era facto. Não havia nada a dizer. Uma pena, porque até gostava dele. Do gato e do Sr. Director. Mas não havia meio de conseguir agradá-lo. Parecia que estava sempre na hora errada, no lugar errado.

Ouviu um ruído, mas ainda não era a porta a abrir-se. Maristela tentava não ter medo. Afinal, gente grande não tem medo. Sentiu uma dor forte no estômago. Pensou que tinha fome e lembrou-se dos biscoitos da avó. Tão doces. E neste momento, sentiu o estômago a contrair-se mais. Lembrou-se novamente do gato. "Tens de ter atenção às coisas que fazes! Ai de ti, se me aprontas mais uma!"E lá estava ela, mais uma vez...

Desta vez era a vidraça que se partira. Esqueceu-se da janela aberta, o vento deu-lhe com força e pronto... estilhaços de vidro espalhados pelo chão. Como podia ser possível?? Como assim ela nunca fazia nada direito?? Nem era pelo vidro. Nem era pelo gato. Era por ter que admitir, mais uma vez: errei. Ter de dizer mais uma vez: sim, foi culpa minha, desculpe-me

Sentia frio. Levantou-se mas não conseguia sair do lugar. Aquela maçaneta já merecia ser trocada... fazia demasiado barulho ao girar. E era dura. A porta abriu-se. De lá de dentro só se ouviu quando ele disse: "Podes entrar, Maristela."

1 comment:

a_garcia said...

Caraca, Maristela é mais gente grande com 9 do que alguns com 30. Quando ela vai ser criança mesmo?