Wednesday, September 17, 2008

Cabíria




A minha madrasta (ou boadrasta, como ela prefere ser chamada) caiu de pára-quedas na minha vida quando começou a andar com o meu pai. Não. Ao contrário. Caí eu, de pára-quedas na vida dela quando vim, em 2005 visitar meu Pai em Teresópolis, pela primeira vez, depois de me ter mudado para Portugal. Desde o primeiro instante (eu e essa minha mania de achar que olho para as pessoas e “vejo”) gostei muito dela. Conversamos por imenso tempo enquanto eu ainda tentava me acostumar ao facto de ter ali, depois de 2 looongos anos, bem na minha frente, o meu Pai – eu sei que isso parece papo de filho adoptivo que reencontra os pais biológicos, mas enfim… há gente e situações que me causam os efeitos mais inesperados.

No ano passado, confesso que não sei muito bem o que se passou. Tenho a impressão de que ela não esteve aqui por muito tempo… quase não convivemos, quase não conversamos. E dos 3 ou 4 diálogos que tivemos, só me lembro do desastroso dia do “todas as pessoas de quem eu gosto, tenho a certeza, vão para o Inferno”. Os olhos verdes de Cabíria arderam em chamas e ela respondeu indignada: “Ah, mas eu não vou pro Inferno, não!” Já nem me lembro bem do que pensei: se ela estaria ofendida pela sugestão da sua maldade ou se pela sua exclusão do círculo de pessoas que eu amo.

Este ano, Cabíria tem estado, sem dúvida mais presente. E apesar de Libra que é, não é uma pessoa calculista, e nem tão pouco indecisa! Blá blá blá psico-exotérico à parte, eu, que sempre critiquei minha mãe pela conversa do “sou muito velha para correr atrás de homem” aos 45, tenho que tirar o chapéu para a Cabíria, que, mesmo depois de um casamento de 15 anos, 2 filhos e muita estrada, acredita cegamente que é sempre tempo de recomeçar, e que tem força de vontade e paciência (de Jó) para viver (ainda mais quando é) com alguém (tão parecido comigo) como meu Paizinho.

Pode haver aqui algum desavisado, perdido na blogsfera, que venha dizer que eu sou um docinho de pessoa, tão cândida! Mas quem me conhece a sério sabe bem que de docinho tenho pouco. Ou então, sou a perfeição de criatura com o sentido de auto-crítica mais apurado do universo. De um jeito ou de outro, a ordem dos factores não altera o produto. Assim, acho que viver com meu pai é fantástico. Mas só serve para alguém como eu, feita da mesma forja que ele… ou então, como a Cabíria.

Ah e tal que, então, eu contei para Cabíria uma certa estória que anda acontecendo num gerúndio à conta-gotas na minha cabeça, e eu, com a ilusão pateta da armadura de adamantium que veste a minhoca, depois de 2 ou 3 perguntas simples, fiquei totalmente nua, desvendada, reduzida ao mais banal dos lugares comuns. Não é todo mundo que tem o direito de olhar e saber, de dentro para fora, aquilo que sinto. Ainda não preenchi este formulário para ela. Mas ali estava eu, sem palavras, sem argumentos, sem razão. Teimosa que sou, ainda assim, acho que ela esconde uma carta na manga: ela vive com meu Pai. E conhece o meu Pai, no melhor e no pior que a armadura tem para oferecer. Diz e repete, em alto e bom som, para quem quiser ouvir: ba-ba-qui-ce! Perda de tempo, lamechice, viadagem.

Ai de mim!

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