Sunday, December 31, 2006


1 hora, 18 minutos e 50 segundos. Este é o tempo exato de duração do novo álbum dos Beatles. Para começar a explicar o que senti ouvindo este disco, talvez eu precise primeiro dizer que simplesmente amo os Beatles. E justificar o porque amo os Beatles é como explicar o porquê gosto de assistir ao pôr-do-sol. Piegas ou não, os Beatles desde que apareceram na minha vida - lá nos idos anos 80, quando eu era ainda muito criança para sequer saber qualquer coisa - sempre estiveram presentes. Primeiro na afeição da minha mãe pelo John Lennon, depois pela simples curiosidade de conhecer algo que influenciara muito da música mundial dali pra frente, depois naquelas manhãs de sábado, na altura do advento do maravilhoso laser e dos CDs, que trouxeram clássicos remasterizados em som digital, quando meu pai teve a brilhante idéia de gastar sei lá quanto (uma vez que os CDs dos Beatles costumam ser caros) comprando duas coletâneas, que lá em casa tocaram over and over. Pela simples banal curiosidade pela língua inglesa (que sempre achei fascinante) até ao amor incondicional pela doçura do Paul McCartney. Pelo elo que me une à loucura non-sense do John Lennon, passando pela poesia irónica do George Harisson até ao carisma da atitude tosca do Ringo Starr. Amo os Beatles porque sim. Porque são ótimos músicos, fazendo ótima música. Perfeita na simplicidade que tem. Surpreendente na riqueza dos detalhes! Viraram sinónimo de coisa boa, companhia agradável em bons momentos, abraço forte nos maus momentos, e luz no fim do túnel. Sempre.

Quando estava, muito por acaso, no site do Cirque du Soleil - que per se já é lindo - a procura de notícias sobre alguma aparição pelas terras ibéricas, descobri que estava prestes a estrear LOVE, a visão mais fantástica da música dos Beatles, convertida em realidade pela equipe maravilhosa do Cirque. But there is always a catch: Somente em Las Vegas... Quase tive uma síncope, pensando quando e como eu iria dar um jeito de ir até lá para assistir. Como pareceu impossível desde o início, tive, muito muito a contra gosto, que me conformar em aguardar ansiosamente o lançamento do DVD, e pagar por ele os milhões que fossem para trazer para casa aquele sonho.

Pouco tempo depois disso, vi na TV notícias sobre o lançamento do disco. No primeiro instante, quando vi a capa (que tem a mesma figura que o cartaz do evento) pensei que meu pedido tivesse sido ouvido, e o Cirque viesse a Portugal. Nem que tivesse que me prostituir por cada euro, iria arrumar dinheiro para ir. Mas não. Era apenas o álbum........... Apenas?!? Era o álbum, caralho!! A música dos Beatles que iria tocar no show, remixada, re-editada por Geoge Martin e seu filhote Giles.

Finalmente termino esta grande explicação em flash-back: Ganhei o disco de Natal. Acabo de ouvi-lo. O disco é todo feito com partes de músicas encaixadas em outras, e quando menos se espera, quase que num orgasmo, todas se fundem e delas surge uma outra, que não estávamos a espera... Se cada música dos Beatles me traz uma sensação, me transporta para um lugar, para um determinado grupo de pessoas, uma época da minha vida ou da história do mundo onde eu gostaria de ter vivido (leia-se os rebeldes anos 60 ou os psicodélicos anos 70), a junção de várias delas numa só fez-me sentir em êxtase extremo. Tão extremo que, muitas vezes não consegui conter as lágrimas. Fiquei tão grata por ter tido a simples chance de ouvir este disco (a pessoa que me deu não entende, infelizmente...) que minha vontade é tocá-lo a cada um dos meus amigos, explicar cada vírgula, gravar várias cópias, enviar para minha mãe, para meu pai. O George Martin e aquele filho dele, por mim, podiam ir os dois para a cadeia, junto com a pessoa que teve a ousadia de inventar o Ferrero Rocher (porque deveria ser proibido misturar chocolate com avelãs e biscoito). Porque se tudo que é proibido é mais gostoso, o CD é tão bom, mas tão bom, que deve ser crime. Quanto ao Noel Gallagher, bem, este verme sim, poderia pegar no kit junkie e se drogar até ter a derradeira OD. Se uma pessoa que se diz fã dos Beatles não é capaz de apreciar o que foi feito aqui, bem... que morra! (sem paciência para dor de cotovelo babaca!)

Mais uma vez, de todas as lições que ao longo do tempo tenho extraído da música dos Beatles, a lição desta fase é de que sempre podemos pegar em coisas antigas, reuní-las, re-estruturá-las e construir um futuro muito muito bonito, brilhante, vivo... basta que a matéria-prima seja algo de bom. Genial. Como os Beatles.

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