Sunday, April 06, 2008

A maçã

Uma vez, há muito tempo (psicológico) atrás, no meio da minha inocência de pessoa de 22 anos, eu cheguei à brilhante conclusão, somando a+b, de que a vida da ciência é um sacerdócio. No meio das minhas utopias, achava que não era certo tirar um doutorado ou mestrado pelo dinheiro da bolsa. Deveria ser um trabalho feito com dedicação total, abnegação, perseverança. E depois, não valia a pena. Mais valia trabalhar numa loja, ganhar o mesmo e no fim do dia não ter que pensar mais naquilo. Foi nesse momento em que eu desisti. Porque me conheço. Sei que não sou uma pessoa de sacrifícios. Ou até sou, se a meta estiver logo ali, bem a minha frente, piscando em neon roxo e verde.

Passou algum tempo e eu descobri exactamente o porquê de eu ser sim talhada para essa vida: preciso de um trabalho intelectualmente activo e desafiador. No qual eu tenha a noção de que construo qualquer coisa, e de que, depois de tanto trabalho, irei chegar a algum lugar. Mesmo que veja, claro como a água, que estou apenas tentando adicionar um tijolo a uma parede duma catedral que talvez eu mesma nunca veja construída. Não sei sequer a dimensão ou o aspecto final, mas sei que estará lá. E que fiz a minha parte.

Quem corre por gosto, realmente não se cansa. Ou pelo menos, não deveria. Essa é a diferença. Não há sacrifício, sai naturalmente. E é por isso que eu continuo feliz (apesar das poucas horas de sono). Isto é o que eu faço. É o que eu amo. Mesmo com a rataria aos sábados e domingos. Ininterruptamente desde Janeiro, quando me despedi em grande da vida Paris Hilton......

E cá estou eu, seleccionando parasitas resistentes. My pride and joy. Aquilo que me move: lâminas positivas mesmo em presença de droga!


...mas eu queria poder ir à Veneza no feriado de 25 de Abril... :-(

4 comments:

Anonymous said...

Nada de trabalho em loja para você!

E viva a vida de corno!

Anonymous said...

Ai, a ciencia...
O teu post e como um ultimo suspiro de positivismo nessa minha cabeca atormentada pela ciencia. Eu, amiga, nao sei se aguento mais esse barco. Nao esta dando mais para mim nao... "pede pra sair, 01!!"
E malandro, ser do BOPE nao e para qualquer um nao! Muito poucos chegam ao fim, querida, espero que a tua rataria valha a pena!
Viva o trabalho heroico! uhuuuu

Anonymous said...

Com a idade os atletas perdem velocidade, passam para o mei-fundo e acabam a carreira a correr a maratona.

Deixa lá afinal tens sempre à tua frente a ponte 25 de Abril!

Giselle said...

E viva os parasitas resistentes!

Quando me formei, mandaram-nos escolher uma frase, como um epitáfio (cruzes!), pra ficar sob nossas fotos no mural. Eis a minha, quer dizer a do Humberto Rohden que escolhi:
"O homem não necessita senão de um mínimo conforto na vida quando esta tem uma finalidade nitidamente consciente; quando ele sabe porque vive, trabalha, sofre. Uma causa grande e digna, claramente apreendida e entusiasticamente abraçada, torna grandiosamente fascinante a mais humilde das existências".

Não preciso dizer que logo depois disso fui seduzida pela promessa de ganhos milionários na advocacia privada... Somente alguns anos depois tive a coragem de abraçar o sonho de outrora.

Parabéns a nós! Porque ganhar dinheiro é fácil, difícil é salvar o mundo. Queria apenas que estivéssemos em maior número. Imagine all te people...