Quando eu vivia lá no Rio de Janeiro, andava por toda parte. No centro da cidade (q eu sempre amei, por ser tudo de melhor e de pior), no meu bairro, na zona sul... andava por todo lado. É óbvio que vi muitas das mazelas da cidade e era de partir o coração ver todas aquelas crianças e jovens a viver na rua, pedindo dinheiro, vendendo chiclete ou mesmo roubando para viver (isso sem falar naquelas que se envolvem no tráfico de drogas). Meninos e meninas que nunca foram à escola, que não têm família, que não têm futuro, que não têm esperança.
Aqui em Portugal, não há disso. Não há crianças abandonadas a viver na rua. Não há gangs de meninos de 13 anos a roubar no sinal. Todas as (poucas) crianças estão na escola, e o ensino básico (público) não é a tragédia que é no Brasil. Aqui no Montijo acho que não há nem cão vadio, quanto mais gente a viver nas ruas (aliás esqueci que não há mais ninguém além de mim a viver nessa cidade!!). Já em Lisboa, que é uma cidade muito maior, bem mais comparável ao Rio, existem alguns mendigos, e no caminho que eu faço todos os dias tem UMA cigana com UMA menina pedindo dinheiro. Todos os dias a mesma criança.
Mas aqui tem uma coisa que lá não tem: o problema dos velhos. Uma vila no cú de Portugal com (literalmente) 5 habitantes, todos com mais de 70 anos. Existe até uma lenda de um velhote que apanhou a velhota dele com o vizinho (também velhote) na cama, matou os dois e teve que se mudar de cidade, porque ele era o último que restava... As casas de abrigo e os hospitais carregados de velhinhos. Ou então, andam espalhados pelas ruas, pelas caves do metro a pedir dinheiro. Velhinhos que não têm família, que não têm futuro, que não têm esperança, literalmente, esperando pela morte, uma vez que "já estão no fim da vida".
O que, na minha opinião, faz esta visão muito mais cruel que a do Rio de Janeiro, é que ao contrário das crianças de rua, que nunca conheceram outra vida sem ser aquela, os velhos um dia já foram como eu e você: com planos, sonhos, metas. Tiveram casa, família, educação, amor, filhos, trabalharam e construíram algo, viveram uma vida a sério. E agora, no final, não têm mais nada, mais ninguém. É muito mais difícil ter tudo e passar a não ter mais, do que nunca ter tido! Além do mais, eu sei que é difícil, e que isso é apenas uma minoria, mas para as crianças e jovens sempre há tempo para mudar de vida e se reinserir na sociedade, através daqueles projetos sociais que tentam fazer a diferença, e que até fazem para alguns. Mas para os velhos? Bem, quem vai dar trabalho (ou ocupação) para alguém com mais de 70 anos? E quem, com mais de 70 anos, conseguiria trabalhar? Qual é o lugar dos velhos nos dias de hoje?
Vivemos mais, é certo. Mas para que?? Se é para acabar assim, salve Kurt Cobain!
LIVE FAST AND DIE YOUNG!